Feridoteca - Tese de Mestrado Úlcera de Pressão

FERIDOTECA - TESE DE MESTRADO
ÚLCERA DE PRESSÃO

 

REVISÃO DA LITERATURA

 

ESCALAS PARA AVALIAÇÃO DO RISCO
PARA ÚLCERA DE PRESSÃO

- Escala de Avaliação de Risco de Norton

Escala de Avaliação de Risco de
Gosnell

-
Escala de Avaliação de Risco de Waterlow

-
Escala de Avaliação de Risco de Braden

 

 

 

 

 

 

 

 

Com a intenção de colaborar na prevenção de úlceras de pressão, dando subsídios para que os enfermeiros pudessem mais objetivamente indicar quais os pacientes que correm risco para desenvolvê-las, vários pesquisadores elaboraram escalas para predizer o risco para sua formação. Entre as mais citadas estão as de Norton, de Gosnell, de Waterlow e a de Braden (Bergstrom et al., 1987; Bryant et al., 1992; Braden e Bergstrom, 1994; Dealey,1996).

 

Escala de Avaliação de Risco para Úlcera de pressão de Norton

A primeira escala a ser desenvolvida foi a escala de Norton no início dos anos 60 (Quadro 2).

 

 

 

A escala consiste de cinco fatores de risco: condição física, estado mental, atividade, mobilidade e incontinência. Cada um dos fatores de risco é dividido em vários níveis, e cada nível é pontuado numa escala de 1 a 4, com uma ou duas palavras descritivas para cada nível.A soma dos cinco níveis produz um escore que pode variar de 5 a 20, com um baixo escore indicando risco aumentado.

 

 

Norton encontrou uma relação linear entre os escores dos pacientes idosos e a incidência de úlceras de pressão (Bryant et al., 1992; Dealey, 1996; Braden e Bergstrom, 1994). Observa-se que a escala de Norton não contempla a fricção e o cisalhamento, a idade do paciente e as condições da pele, tais como textura e umidade, citados na literatura como fatores de risco no desenvolvimento de úlceras de pressão.
  

Quadro 2 - Escala de Avaliação de Risco de Norton.

Nome do paciente                   Nome do examinador                      Data

Condição Física

Estado Mental

Atividade

Mobilidade

Incontinência

 Total de Pontos

 Bom      4 pontos  Alerta      4  Deambulante           4  Total                  4  Não                      4  
 Regular  3 pontos  Apático   3  Caminha com ajuda 3  Ligeiramente      3  Ocasionalmente     3  
 Ruim      2 pontos  Confuso  2  Limitado a cadeira   2 Muito Limitada    2  Usualmente/Urina  2  
 Muito Ruim 1 ponto  Estupor   1  Acamado                1  Imóvel               1  Dupla                    1  


 

Escala de Avaliação de Risco para Úlcera de pressão de Gosnell

Gosnell, em 1973, fez uma adaptação da escala de Norton (Quadro 3), acrescentando nutrição e retirando condição física.

A escala de Gosnell está constituída também de cinco fatores de risco: estado mental, continência, mobilidade, atividade e nutrição, contendo três ou mais palavras ou sentenças descritivas para cada fator de risco.

Além disso, a autora também estudou algumas variáveis adicionais, tais como temperatura corporal, pressão sangüínea, cor e aparência geral da pele, medicação e diagnóstico médico, embora não as tenha incluído na pontuação.

A faixa de pontuação possível para a escala de Gosnell varia de 5 a 20; ainda estão em desenvolvimento testes para determinar a pontuação crítica na escala (Bryant et al., 1992; Braden e Bergstrom, 1994).

Concordamos quando Gosnell acrescenta em sua escala o fator de risco nutrição, pois a deficiência nutricional é bastante citada na literatura como significativo fator no desenvolvimento de úlceras de pressão. No entanto, a nosso ver, o fator de risco condição física deveria ter permanecido. Conforme afirma Dealey (1996), os fatores externos podem causar a úlcera de pressão, mas não são suficientes para desenvolvê-las imediatamente, enquanto as condições individuais do paciente são fatores determinantes. Quando o corpo está saudável, pode suportar uma pressão externa maior do que quando está doente.

 

Quadro 3 - Escala de Avaliação de Risco de Gosnell

Identidade
Idade, Sexo, Altura, Peso
Diagnóstico Médico             Diagnóstico de Enfermagem
Data de Admissão               Data de Saída
*Complete todas as categorias com 24 horas de admissão e todos os outros dias em diante.

Estado Mental

Continência

Mobilidade

Atividade

 Nutrição

 Total de Pontos

  Alerta            1  Completamente controlada           1  Completa              1  Deambulante          1  Boa          1
Apático           2  Usualmente controlada           2  Ligeiramente limitada               2  Caminha com assistência              2  Regular     2
  Confuso        3  Minimamente controlada           3  Muito Limitada    3  Limitado a cadeira   3  Pobre        3
 Torporoso      4  Ausência de controle              4  Imóvel                4  Acamado                4
Inconsciente   5

Data

Sinais Vitais Dieta Balanço Fluído de 24 horas

Aparência Geral da Pele

Intervenções

Cor

Umidade

 Temperatura

 Textura

1. Pálida 1. Seco 1. Baixa  1. Lisa
2. Manchada 2. Úmido 2. Muito baixa  2. Aspera
3. Rósea 3. Oleoso 3. Quente  3. Delgada/
Transparente
4.Acinzentada 4. Outro 4. Elevada  4. Escamosa 
5. Rubra      5. Grosseira
6. Cianótica      6.  Outra
7. Ictérica      
Temp. Pulso F.Resp. P.A. Entrada Saída 8. Outro       Sim  Não Descrever
Medicação Dosagem Freqüência Via  Data de Início Término


 

Escala de Avaliação de Risco para Úlcera de pressão de waterlow

Segundo Dealey (1996), a escala mais amplamente utilizada nos hospitais do Reino Unido é a pontuação de Waterlow (Quadro 4).

 

Esta pontuação está constituída por maior número de fatores de risco que a de Norton e a de Gosnell, levando em consideração: constituição/peso para altura, continência, áreas visuais de risco/tipo de pele, sexo/idade, mobilidade, apetite, má nutrição dos tecidos, débito neurológico, cirurgia de grande porte/trauma e medicação Os últimos quatro fatores são considerados de risco especial. A pontuação de Waterlow classifica o grau de risco em: “de risco”, “alto risco” e “risco muito alto”.  

Quadro 4 - Cartão de Pontuação de Waterlow

Constituição
peso/altura

Sexo

Apetite Tipo de pele Mobilidade

Débito Neurológico

Continência Riscos Especiais
Má Nutrição Tecidual
Cirurgia
grande porte
ou trauma

Medicação

Normal
0
Masc. 1
Fem.   2

Normal     0

Saudável
0

Total
0

MS. paraplegia

4-6

Normal
0

Caquexia terminal
8

Ortopédica
abaixo cintura, espinha dorsal    5

Esteróides
4
Acima da
média
1
Idade Diminuído 1

Fina - folha
de papel
1

Nervoso
1
Incontinência
Ocasional
1
Insuficiência cardíaca
5

Na mesa de operação:
>2 horas  5

Citotóxicos
4
Obeso
2
14-49   1 Sonda NG líquidos   2 Seca
1
Apático
2
Catéter
Incontinência  2
Doença vascular periférica
5
Anti-inflamatório  4
Abaixo da
média
3
50-64   2

NBM Anoréxico 3

Edematosa  1 Restrita
3
Incontinência
Dupla
3
Anemia
2
65-74   3 Viscosa
1

Inerte/Tração    4

Fumo
1
75-80   4 Descorada
2
Preso à cadeira de rodas
5

>85    5

Quebradiça   3

PONTUAÇÃO

Médio risco > 10 pontos

 Alto risco > 15 pontos


 

Escala de Avaliação de Risco para Úlcera de pressão de BRADEN

A escala de Braden (Quadro 5) é bastante utilizada nos Estados Unidos da América.

Ela é composta de seis subescalas: percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição, fricção e cisalhamento. Das seis subescalas, três medem determinantes clínicos de exposição para intensa e prolongada pressão – percepção sensorial, atividade e mobilidade; e três mensuram a tolerância do tecido à pressão – umidade, nutrição, fricção e cisalhamento. As primeiras cinco subescalas são pontuadas de 1 (menos favorável) a 4 (mais favorável); a sexta subescala, fricção e cisalhamento, é pontuada de 1 a 3. Cada subescala é acompanhada de um título e cada nível, de um conceito descritor chave e uma ou duas frases descrevendo ou qualificando os atributos a serem avaliados.  

A contagem de pontos baixa, na escala de Braden, indica uma baixa habilidade funcional, estando, portanto, o indivíduo em alto risco para desenvolver a úlcera de pressão. A pontuação pode ir de 4 a 23. Pacientes adultos hospitalizados, com uma contagem igual ou menor do que 16 pontos, são considerados de risco. Uma pontuação de 16 é considerada risco mínimo; de 13 a 14, risco moderado; de 12 ou menos, risco elevado (Bergstrom et al., 1987; Bryant et al., 1992; Braden e Bergstrom, 1994; Bergstrom et al., 1995; Dealey, 1996).  

Dealey (1996) ressalta que as escalas de risco são úteis, trazendo benefícios na avaliação sistemática do paciente, devendo a equipe de enfermagem ter o cuidado de utilizar as medidas preventivas cabíveis quando o paciente é considerado de risco. Segundo a autora, essa avaliação deve ser regular e não ocasional, como é o caso de sua aplicação unicamente na admissão do paciente.

Existem várias críticas com respeito às escalas de risco descritas, considerando-se que algumas delas subestimam, enquanto outras superestimam a avaliação de pacientes de risco.

 Com a utilização de algumas dessas escalas, estudos demonstraram que pacientes que foram avaliados como sendo de risco não desenvolveram úlcera de pressão, enquanto outros, avaliados como não sendo de risco, a desenvolveram (Dealey,1996).

Uma outra crítica que pode ser feita às escalas apresentadas é que utilizam ordem de pontuação diferente (crescente ou decrescente) para avaliação do risco, dificultando dessa forma a comparação dos resultados de estudos que testam o seu emprego.  

 

Ao fazer uma análise das escalas descritas, verificou-se que a de Braden é a que está melhor definida operacionalmente. Mas, acredita-se que, para melhor se adequar à nossa realidade, alguns itens deveriam ser levados em conta como a idade do paciente, as condições da pele, o peso corporal e as condições predisponentes, ou seja, o estado geral de saúde do paciente. Os autores pesquisados, tais como Braden e Bergstrom (1987) e Bryant (1992), dividem os fatores de risco para úlceras de pressão em intrínsecos e extrínsecos. Entretanto, deve-se também investigar “a relação entre eventos presentes no curso clínico da doença, em especial na época do diagnóstico – e sua relação com a evolução do processo ...” (Pereira, 1995), a exemplo das condições patológicas que antecedem e favorecem o risco imediato.  

Ainda referindo-se à causalidade, Pereira (1995) diz que “a relação do tipo ‘causa e efeito’ entre dois eventos, significa que a presença de um deles contribui para a presença de outro.”

A revisão de literatura que foi empreendida reafirma a importância do uso de uma escala de risco para predizer a possibilidade de desenvolvimento de úlcera de pressão pois, segundo Pereira (1995), “a constatação de que uma associação é de natureza causal tem importante conotação em termos práticos: isto porque, conhecidas as causas, abrem-se melhores oportunidades para a prevenção e controle”.

 

 

Quadro 5 - Escala de Braden

Paciente:__________Registro: _______  Leito:______
Tradução feita por  Dra. Maria Helena Larcher Caliri ( EERP – USP ), autorizada pela autora Barbara Braden.
  1 PONTO 2 PONTOS  3  PONTOS  4 PONTOS

Percepção Sensorial:
Habilidade de responder significativamente à pressão relacionada com o desconforto.

 

Completamente Limitado : não responde a estimulo doloroso (não geme, não se esquiva ou agarra-se), devido a diminuição do nível de consciência ou sedação, ou devido a limitação da habilidade de sentir dor na maior parte da superfície corporal.      Muito Limitado: responde somente a estímulos dolorosos, Não consegue comunicar o desconforto a não ser por gemidos ou inquietação, ou tem um problema sensorial que limita a habilidade de sentir dor ou desconforto em mais da metade do corpo.                            Levemente Limitado: responde aos comandos verbais, porém nem sempre consegue comunicar o desconforto ou a necessidade de ser mudado de posição. Ou tem algum problema sensorial que limita a sua capacidade de sentir dou ou desconforto em uma ou duas extremidades.               Nenhuma Limitação: responde aos  comandos verbais. Não tem problemas sensoriais que poderiam limitar a capacidade de sentir ou verbalizar dor ou desconforto.             
Umidade:
Grau ao qual a pele está exposta à umidade.
Constantemente Úmida: a pele é mantida úmida/molhada quase constantemente por suor, urina, etc. a umidade é percebida cada vez que o paciente é movimentado ou posicionado Muito Úmida: a pele está muitas vezes, mas nem sempre úmida/molhada. A roupa de cama precisa ser trocada pelo menos uma vez durante o plantão. Ocasionalmente Úmida: a pele está ocasionalmente durante o dia úmida/molhada, necessitando de uma troca de roupa de cama uma vez por dia aproximadamente. Raramente Úmida: a pele geralmente está seca,  a roupa de cama só é trocada nos horários de rotina.
Atividade Física:
Grau de atividade física.
Acamado: mantém-se sempre no leito. Restrito à cadeira: a habilidade de caminhar está severamente limitada ou inexistente. Não agüenta  o próprio peso e/ou precisa ser ajudado para  sentar-se na cadeira ou cadeira de roda Caminha Ocasionalmente: caminha ocasionalmente durante o dia, porém por distâncias bem curtas, com ou sem assistência. Passa a maior parte do tempo na cama ou cadeira Caminha Freqüentemente: caminha fora do quarto pelo menos duas vezes por dia e dentro do quarto pelo menos a cada duas hora durante as horas que está acordado.
Mobilidade:
Habilidade de mudar e controlar as posições corporais
Completamente Imobilizado: não faz nenhum movimento do corpo por menor que seja ou das extremidades sem ajuda. Muito Limitado: faz pequenas mudanças ocasionais na posição do corpo ou das extremidades no entanto é incapaz de fazer mudança freqüentes ou significantes sem ajuda. Levemente Limitado: faz mudanças freqüentes, embora pequenas, na posição do corpo ou das extremidades, sem ajuda. Nenhuma Limitação: faz mudanças grandes e freqüentes na posição sem assistência.
Nutrição:
Padrão usual de ingestão alimentar
Muito Pobre: nunca come toda a refeição. É raro quando come mais de 1/3 de qualquer comida oferecida. Come 2 porções ou menos de proteína (carne ou derivados do leite) por dia. Toma pouco líquido. Não toma nenhum suplemento dietético líquido. Está em jejum ou mantido em dieta de líquidos claros ou hidratação EV por mais de 5 dias. Provavelmente Inadequado: raramente faz uma refeição completa e geralmente come somente metade de qualquer alimento oferecido. A ingestão de proteína inclui somente 3 porções de carne ou derivados de leite. De vez em quando toma um suplemento alimentar. Ou recebe menos do que a quantidade ideal de dieta líquida ou alimentação por sonda. Adequado: come mais da metade da maior parte das refeições. Ingere um total de 4 porções de proteína (carne, derivados do leite ) por dia. Ocasionalmente recusa uma refeição mas, usualmente irá tomar um suplemento dietético oferecido. Ou está recebendo dieta por sonda  ou Nutrição Parenteral Total, que provavelmente atende a maior parte das suas necessidades nutricionais Excelente: come a maior parte de cada refeição. Nunca recusa a alimentação. Come geralmente um total de 4 ou mais porções de carne e derivados do leite. De vez em quando come entre as refeições. Não necessita de suplemento alimentar.
Fricção e Cisalhamento Problema: necessita assistência moderada ou assistência máxima para mover-se. É impossível levantar-se completamente sem esfregar-se contra os lençóis. Escorrega freqüentemente na cama ou cadeira, necessitando assistência máxima para freqüente reposição do corpo. Espasmos, contrações leva a uma fricção constante. Potencial para Problema: movimenta-se livremente ou necessita uma assistência mínima. Durante o movimento a pele provavelmente esfrega-se em alguma extensão contra os lençóis, cadeiras, ou restrições ou outros equipamentos. A maior parte do tempo mantém relativamente uma boa posição na cadeira ou na cama, porém de vez em quando escorrega para baixo. Nenhum Problema Aparente: movimenta-se independentemente na cama ou cadeira e tem força muscular suficiente para levantar o corpo completamente durante o movimento. Mantém o tempo todo, uma boa posição na cama ou cadeira.
Total de Pontos        


 

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