Tese de Mestrado - Úlcera de Pressão Resultado e Discussão

TESE DE MESTRADO - ÚLCERA DE PRESSÃO
RESULTADO e DISCUSSÃO

 

DESCRIÇÃO DA AMOSTRA

Tabela 1  Distribuição das variáveis demográficas de pacientes acamados, internados na Enfermaria de Clínica Médica do HULW/UFPB –  João Pessoa, nov./97 a fev./98.  

Variáveis Demográ-
ficas  
f % (n=52)  
Sexo
Masc.
Fem.

19
33

36,5
63,5
Faixa Etária
em anos
complet.  
< 20
20 – 40
41 – 60
61 – 80
81 ou mais
 


3
4
14
22
9

 


5,8
7,7
25,9
42,3
17,3

Dias de Internação
<10
10- 30
31 - 60
61 - 80


21
22
7
2


40,4
42,3
13,5
3,8

Foram estudados 52 pacientes acamados, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 92 anos, e com tempo de internação variando entre 01 e 80 dias (Tabela 1). Conforme pode ser observado, na distribuição da amostra por sexo houve uma predominância de pacientes do sexo feminino (63,5%). Com relação à composição por faixa etária, prevaleceram os pacientes mais velhos – a freqüência percentual acumulada das faixas etárias de 61 a 80 e de 81 anos ou mais foi igual a 59,6%; a média de idade foi de 62 anos e a mediana de 66 anos.

A idade é um fator relevante na gênese das úlceras de pressão. De acordo com a literatura, nos idosos ocorrem diversas mudanças corporais que interferem nos mecanismos de proteção, a exemplo da pele, que se torna enrugada, com diminuição da quantidade de fibras elásticas e colágeno dérmico e da eficiência do sistema respiratório e circulatório, importantes no transporte de oxigênio (Atkinson e Murray, 1989; Hood e Dincher, 1995; Black e Matassarin-Jacobs, 1996).

Na distribuição por dias de internação, observou-se haver predominância de pacientes com 10 a 30 dias de internação (42,3%) e com menos de 10 dias de internação (40,4%). Na amostra total, a média de tempo de internação foi de 18,4 e a mediana de 11 dias. Vale ressaltar que, para a formação de úlceras de pressão, o tempo de internação é um fator de importância relativa. Conforme já foi afirmado anteriormente, há evidências de que, mesmo em curto espaço de tempo, a úlcera pode se formar, se a intensidade da força de pressão no corpo for alta.

Com relação às hipóteses diagnósticas anotadas nos prontuários dos pacientes por ocasião de admissão, destacaram-se o acidente vascular cerebral, o diabetes mellitus, as neoplasias e a hipertensão arterial (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição de hipóteses diagnósticas de pacientes acamados, internados na Enfermaria de Clínica Médica do HULW/UFPB – João Pessoa, nov./97 a fev./98. Alguns pacientes apresentavam mais de uma hipótese diagnóstica.

HD

¦

%n=52)

AVC

20

8,5

D. mellitus

14

26,9

HAl

11

21,2

Desnutrição

4

7,7

Neoplasias

14

26,9

Mielite

2

3,8

Paraplegia

1

1,9

Miocardiopatia

1

1,9

Coronariopatia

1

1,9

Arritmia

1

1,9

Fibrilação atrial

1

1,9

Angina

1

1,9

ICC

3

5,8

Hipertensão portal

1

1,9

ITU

6

11,5

Artrite

3

5,8

Transt. depressivos

1

1,9

Escabiose

3

5,8

Ictiose vulgar

1

1,9

Psoríase

1

1,9

Pênfigo vulgar

1

1,9

Septicemia

3

5,8

Cirrose hepática

2

3,8

Hepatite

2

3,8

Encefalopatia hepática

2

3,8

Hepatopatia Cr.

1

1,9

Pancreatite

1

1,9

Ascite

1

1,9

DPOC

4

7,7

BCP

2

3,8

IRA

1

1,9

TBC

1

1,9

Úlc. varicosas

1

1,9

Leucose

1

1,9

Insuf. renal

1

1,9

 

CONDIÇÕES PREDISPONENTES PARA ÚLCERA DE PRESSÃO 

Tabela 3 – Índice de concordância entre observadores e distribuição do percentual médio de condições predisponentes para úlcera de pressão em pacientes acamados, internados na Enfermaria de Clínica Médica do HULW/UFPB – João Pessoa, nov./97 a fev./98. Alguns pacientes apresentavam mais de uma alteração.

Condições
Predispon.
Úlcera
Pressão

¦

k

IC

%

n=52

IC

O1

O2

Metab.

14

14

1,00

_

26,9

6,15

Car-resp.

07

07

1,00

13,5

4,74

Neurolog

26

26

1,00

50,0

6,93

Crônico
degener.

21

21

1,00

40,3

6,80

Nutricion .

43

41

0,87

0,047

80,8

5,46

Circulat.

30

29

0,92

0,038

56,7

6,87

Hematol.

44

44

1,00

84,6

5,01

Psicogen.

29

32

0,88

0,045

58,7

6,83

Uso Med.
Depressor
do SNC

34

34

1,00

65,4

6,60

Predispon.(predisponível), O1 (0bservador 1), O2 (Observador 2) ; k=Índice Kappa ; IC=Intervalo de confiança, A. (alterações),
Metab. (A. Metabólicas),
Car-resp. (A.Cardio-respiratórias), Neurol.(A.Neurológicas),
Crônico degener.(A.Crônico Degenerativa),
Nutricion. (A Nutricionais),
Circulat.(A.Circulatórias), Hematol.(A.Hematológicas),
Psicogen.(A.Psicogênicas),
Med.(Medicamentos).


Observa-se na Tabela 3 que 84,6% dos pacientes apresentavam alterações hematológicas. Entre essas alterações destacaram-se a anemia, evidenciada em 61,5% (IC = 6,75), a leucocitose em 55,8% (IC = 6,89) e a leucopenia em 9,6% (IC = 4,09). A anemia resulta de uma redução de células vermelhas do sangue (eritrócitos), diminuindo assim, a capacidade de transporte do oxigênio. O paciente com anemia pode apresentar palidez, cicatrização demorada das feridas, fadiga, fraqueza, anorexia, perda de peso, entre outras manifestações, o que pode facilitar o desenvolvimento de úlceras de pressão (Smeltzer e Bare, 1994). Quanto às alterações nas células brancas, Miller (1991) afirma que estas células “desempenham papel essencial no mecanismo de defesa do organismo contra agressões infecciosas ou de outra natureza”. Representam, portanto, um fator importante para a defesa contra as agressões à pele, de que é exemplo a úlcera de pressão.

As alterações nutricionais estavam presentes em 80,8% dos pacientes. Elas podem ser causadas por “uma dieta insuficiente ou ingestão excessiva de alimentos, por  uma dieta desequilibrada, pelo uso aumentado de  um nutriente específico ou uma falha do organismo na sua utilização” (Hood e Dincher, 1995). Os nutrientes são essenciais para o crescimento, funcionamento normal das células do organismo e regeneração tissular. Quando ocorrem alterações, como a carência de alguns nutrientes essenciais, o organismo pode tornar-se incapaz de crescer, manter-se ou regenerar-se. A deficiência dos nutrientes, a exemplo das vitaminas e proteínas, deixa os tecidos susceptíveis à integridade da pele prejudicada, quando expostos à pressão (Atkinson e Murray, 1989; Bryant et al., 1992).

Entre as alterações nutricionais, observou-se que 51,0% (IC = 6,93) dos pacientes apresentavam emagrecimento, e 24,0% (IC = 5,92) desnutrição. O emagrecimento é uma condição na qual o peso está abaixo dos valores mínimos normais e a desnutrição se caracteriza pela deficiência protéico-calórica. Dentre as suas manifestações clínicas, o paciente pode apresentar a redução de massa muscular e tecido subcutâneo, astenia, irritabilidade, edema generalizado, lesões cutâneas, pele seca, cabelos quebradiços. Os pacientes desnutridos são vulneráveis à formação de úlcera de pressão e, quando estas se instalam, resistem à cicatrização (Beyers e Duda, 1989; Porto, 1996).

Por sua vez, 5,8% (IC = 3,24) dos pacientes apresentavam obesidade, caracterizada pelo peso corpóreo de 20% ou mais acima do peso ideal e o panículo adiposo ultrapassando os limites da normalidade. O paciente obeso, quando acamado, é mais difícil de mobilizar-se ou ser mobilizado, sendo, quase sempre, arrastado na cama durante a mobilização, o que pode levar à lesão dos tecidos (Atkinson e Murray, 1989; Dealey, 1996; Porto, 1996).

Em relação ao uso de medicamentos depressores do sistema nervoso central, observou-se que 65,4% dos pacientes faziam uso deste tipo de medicação, dos quais 46,2% (IC = 6,91) faziam uso de analgésicos, utilizados para proporcionar alívio da dor e promover relaxamento, enquanto 19,2% (IC = 5,46)  faziam uso de tranqüilizantes, que reduzem a angústia e as preocupações, sendo em geral prescritos para pacientes agitados, ansiosos e hiperativos. Esses dois grupos de medicamentos induzem ao sono e, conseqüentemente, os pacientes podem permanecer por mais tempo numa mesma posição, aumentando o risco para a formação de úlcera de pressão (Asperheim, 1994).

Como foi observado na Tab. 3, 58,7% dos pacientes apresentavam alterações psicogênicas, entre as quais destacou-se a desorientação, identificada em 46,2% (IC = 6,91) deles. Segundo a literatura revisada, a desorientação se caracteriza pela perda da noção de tempo, espaço e, às vezes, também da noção do esquema corporal (Porto, 1996). Ela pode predispor o paciente ao risco de desenvolver úlcera de pressão, por ele apresentar um nível prejudicado de consciência que o leva a não perceber a necessidade de reposicionar o corpo para aliviar a pressão. Por sua vez, 9,6% (IC = 4,09) dos pacientes, além da desorientação, apresentavam também agitação. O paciente agitado pode repetidamente friccionar e pressionar o corpo contra os lençóis o que irá favorecer a formação de úlcera de pressão.

Uma outra alteração psicogênica presente foi a depressão, evidenciada em 12,5% (IC = 4,59) dos pacientes e que se caracteriza por uma tristeza profunda e sem motivo aparente, acompanhada de inibição ou lentidão dos processos psíquicos, levando o paciente a apresentar pobreza de movimentos, mímica apagada, inapetência, astenia, tristeza, perda de vontade de viver, desinteresse por si e pelo que acontece ao seu redor, entre outras manifestações (D’Andréa, 1990). O paciente com depressão, em geral, pode permanecer em uma mesma posição por um tempo prolongado, ficando, assim, vulnerável à formação de úlcera de pressão (Hirschfeld e Goodwin, 1992; Porto, 1996).

Observou-se que 56,7% dos pacientes acamados apresentavam alteração circulatória, evidenciada pelo edema, que ocorre devido ao excesso de líquido acumulado no espaço intersticial dos tecidos que constituem a pele e a tela subcutânea. Ele varia de intensidade, podendo ser determinado através de compressão no local (sinal de Cacifo), variando de uma a quatro cruzes. O edema prejudica a circulação, interferindo negativamente no fornecimento de nutrientes para a célula. Os pacientes edemaciados ficam propensos ao desenvolvimento de úlcera de pressão porque “a pele superficial é muito estirada  sobre o líquido subjacente acumulado” (Beyers e Duda, 1989; Smeltzer e Bare, 1994; Porto, 1996).

Cinqüenta por cento dos pacientes apresentavam alterações neurológicas. O sistema neurológico controla e regula todos os outros sistemas corporais, tendo a função de autoproteção, incluindo a capacidade de pensar, estar consciente, responder apropriadamente ao ambiente, locomover-se; de regulação da temperatura corporal e respostas reflexas protetoras. Quando ocorre a perda desta função de proteção, pode haver sintomas tais como diminuição da capacidade de mover-se e de sentir (Black e Matassarin-Jacobs, 1996).

Entre essas possíveis alterações, destaca-se o  acidente vascular cerebral (AVC), diagnosticado em 38,5% (6,75) dos pacientes acamados. No AVC ocorre uma “infartação” (morte) de uma área do cérebro, devido à insuficiência da irrigação sangüínea. O AVC pode ocorrer por oclusão de um dos principais vasos que irrigam o cérebro, por obstrução parcial ou completa de um grande vaso intracraniano, ou por hemorragia cerebral. Como seqüelas, podem ocorrer a hemiplegia, alterações cinestésicas, apraxia, incontinência urinária e fecal (ocasionada por desatenção, lapsos de memória, fatores emocionais ou incapacidade de comunicar-se), confusão, esquecimento, sendo todos estes fatores citados contribuintes para a formação de úlcera de pressão (Black e Matassarin-Jacobs, 1996). Ainda em relação às alterações neurológicas, 11,5% (IC = 4,42) dos pacientes investigados apresentavam mielite, paraplegia por traumatismo, encefalopatia ou compressão raquimedular.

Ainda na Tabela 3, observou-se que 40,3% dos pacientes apresentavam alterações crônico-degenerativas 26,9% (IC = 6,15) apresentavam câncer e 9,6% (IC = 4,09) artrite. Segundo Black e Matassarin-Jacobs (1996), “as condições crônicas interferem na ingestão, transformação e gasto de energia física para o metabolismo celular, transformação e síntese protéica e funcionamento de sistemas orgânicos.” Essas condições podem contribuir para o surgimento da anorexia, fadiga, perda do sono, comprometimento da mobilidade, levando o paciente a um repouso prolongado, o que irá interferir em vários sistemas, inclusive o tegumentar, expondo-o à formação de úlceras de pressão.

Um total de 26,9% dos pacientes apresentavam alterações metabólicas, evidenciadas pelo diabetes. Segundo Black e Matassarin-Jacobs (1996), as alterações metabólicas referem-se a perturbações das reações bioquímicas que ocorrem dentro do organismo. No diabetes ocorre um desequilíbrio entre o fornecimento e a demanda de insulina, podendo esses pacientes vir a ter complicações vasculares periféricas e diminuição da sensibilidade. Essas complicações são consideradas fatores de risco para a formação de úlceras de pressão.

Por sua vez, 13,5% dos pacientes apresentavam alterações cárdio-respiratórias. Segundo a literatura, essas alterações levam o organismo a privar-se de oxigênio e de receber uma quantidade suficiente de sangue, deixando os tecidos predispostos à formação de úlceras de pressão ( Hood e Dincher, 1995; Black e Matassarin-Jacobs, 1996). Entre as alterações cárdio–respiratórias, 5,8% (IC = 3,24) tinham o diagnóstico de pneumonia; a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) foi observada em 7,7% (3,70) dos pacientes, entre os quais 3,8% (IC = 2,65) tinham o diagnóstico de enfisema pulmonar e 3,8% (IC = 2,65) de asma brônquica.

Em relação às condições predisponentes para úlcera de pressão apresentadas na Tabela 3, verifica-se que, na interpretação do Kappa, a concordância entre observadores foi perfeita em 67% e ótima em 33%.

FATORES DE
RISCO INTRÍNSECOS

Tabela 4 – Índice de concordância entre observadores e distribuição do percentual médio de fatores de risco intrínsecos para úlcera de pressão em pacientes acamados, internados na Enfermaria de Clínica Médica do HULW/UFPB – João Pessoa, nov./97 a fev./98.

Fator de Risco

¦

k

IC

%
n=52

IC

O1

O2

 

Sensib sup. alterada

19

20

0,96

0,027

37,5

6,71

Alt. turgor/ elasticidade pele

40

41

0,82

0,053

77,9

5,75

Alt.umidade pele

41

41

0,78

0,057

78,8

5,67

Alt. textura pele

24

20

0,70

0,064

42,3

6,85

Proem. óssea evid.

28

28

1,00

-

53,8

6,91

Idade ³ 60 a

32

32

1,00

-

61,5

6,75

A. temp. corporal

08

08

1,00

-

15,4

5,01

Mob.fís.prej. total

19

22

0,88

0,045

39,4

6,78

Mob.fís.prej. parcial

33

30

0,88

0,045

60,6

6,78  

O1 (0bservador 1), O2 (Observador 2) ; k=Índice Kappa ; IC=Intervalo de confiança, Sensib. (sensibilidade), sup. (superficial), Atl. (alteração),  Proem. (proeminência), evid. (evidenciada), temp. (temperatura), mob.fis.prej.(mobilidade fisica prejudicada).  

Conforme observa-se na Tab.4, 78,8% dos pacientes apresentavam alteração na umidade da pele, que está relacionada com sua hidratação, referente tanto à água quanto à oleosidade. “A pele em geral é seca, porém não excessivamente, e sua umidade freqüentemente reflete os níveis de umidade e temperatura do ambiente” (Black e Matassarin-Jacobs, 1996).

Entre as alterações na umidade da pele, destacou-se a pele seca, presente em 73,1% (IC = 6,15) dos pacientes, que pode ser também um sinal de desidratação e que se caracteriza pela diminuição de água e eletrólitos totais do organismo. Na pele seca, com elasticidade diminuída, a tolerância ao calor, à fricção e à pressão é mais baixa, tornando-a susceptível à rotura. Vale relembrar que os pacientes da amostra deste estudo, em sua maioria, eram idosos e que nessa etapa do ciclo vital ocorre diminuição da função de várias estruturas cutâneas – “o extrato córneo torna-se mais delgado, a pele reage mais rapidamente a pequenas alterações de umidade, temperatura e outros irritantes, aparecem rugas, à medida que o calágeno se torna debilitado e ocorre diminuição da gordura subcutânea” (Black e Matassarin-Jacobs, 1996).

Ainda em relação à alteração na umidade da pele, 5,8% (IC = 3,24) dos pacientes apresentavam a pele sudorenta. Em pacientes acamados, a pele sudorenta também representa risco para a formação de úlceras de pressão, porque a umidade excessiva pode levar à maceração da pele, tornando-a fragilizada.

Do total de pacientes, 77,9% apresentavam diminuição no turgor e elasticidade da pele, indicando pele desidratada. Ressalte-se que o turgor vai diminuindo com a idade, à medida que a pele perde a elasticidade normal e sua capacidade de permanecer hidratada (Beyers e Duda, 1989). Dessa forma, o percentual encontrado justifica-se pela predominância de pacientes idosos na amostra do estudo.

Na Tab. 4, observou-se que 61,5% dos pacientes tinham a idade igual ou superior a 60 anos. Os autores estudados, a exemplo de Beyers e Duda (1989), Bryant et al. (1992), Smeltzer e Bare (1994), Declair (1994) e Benbow e Dealey (1996), enfatizam que é comum nas pessoas idosas o aparecimento de alterações neurológicas, sensoriais, metabólicas, endócrinas, circulatórias e diminuição do sistema respiratório. Referem ainda que os idosos tornam-se progressivamente frágeis, apresentando principalmente alterações vasculares e cutâneas, havendo uma diminuição da produção do colágeno e da camada lipídica da pele, uma redução da perfusão dos tecidos e fragilização das estruturas. A maioria apresenta a pele seca, mais fina e com menor elasticidade. Portanto, este grupo de pacientes é considerado de risco para a formação de úlcera de pressão, conforme já foi afirmado anteriormente.

Em relação à mobilidade física, foi observado que 60,6% dos pacientes apresentavam a mobilidade física prejudicada parcial e 39,4%, mobilidade física prejudicada total. Segundo Potter e Perry (1996), “a mobilidade é a habilidade que um indivíduo possui em se movimentar livremente.” A habilidade/capacidade para mudar a posição do corpo é essencial para evitar pressão nas áreas da pele que não suportam peso. A imobilidade traz sérias complicações para o indivíduo, tais como alterações cardiovasculares, respiratórias, músculo-esqueléticas e cutâneas. Estas complicações estão associadas ao grau e duração da imobilidade. Os autores estudados são unânimes em citar a mobilidade diminuída ou ausente como um fator de risco importante para o desenvolvimento de úlcera de pressão (Braden e Bergstrom, 1987; Bryant et al., 1992; Smeltzer e Bare, 1994; Dealey, 1996). A mobilidade física prejudicada, seja total ou parcialmente, esteve presente em todos os pacientes pesquisados, o que se justifica pelo fato de a amostragem ter sido do tipo intencional.

Em 53,8% dos pacientes acamados havia proeminências ósseas evidenciadas. No local das proeminências ósseas o tecido adiposo existe em pequena quantidade, o que o torna menos resistente à pressão prolongada e, portanto, mais susceptível à formação de úlceras de pressão. Conforme afirmado anteriormente, 51,0% dos pacientes apresentavam emagrecimento, o que justifica o percentual encontrado de pacientes com proeminências ósseas evidenciadas.

Ainda em relação às condições da pele, pôde-se observar na Tab.4 que 42,3% dos pacientes apresentavam alterações em sua textura. “A pele deve parecer suave, macia e elástica. Não deve existir áreas de elevações e nem de espessamento ou adelgaçamento (atrofia) incomuns” (Black e Matassarin-Jacobs, 1996). Dos pacientes que apresentavam alteração na textura da pele, 40,4% (IC =6,80) tinham pele áspera e 1,9% (IC = 1,90) pele lisa ou fina.

Verificou-se que 37,5% dos pacientes apresentavam sensibilidade superficial alterada. A sensibilidade é a propriedade que possuem certas partes do SNC de receber, transmitir ou perceber impressões. É a capacidade do corpo de responder a um estímulo de qualquer natureza (tátil, térmico ou doloroso) e de responder intencionalmente à mudança de posição ou procurar ajuda para esta mudança. A inabilidade para sentir ou reconhecer a pressão ou desconforto aumenta o risco para o desenvolvimento de úlcera de pressão porque “causa uma redução no estímulo para movimentação e é manifestada por uma inatividade física ainda maior” (Bergstrom et al., 1987; Braden e Bergstrom, 1994; Potter e Perry, 1996; Porto, 1996).

Em relação à temperatura corporal, 15,4% dos pacientes apresentavam alterações, dos quais 9,6% (IC = 4,09) apresentavam hipertermia e 5,8% (IC = 3,24) hipotermia. Bryant et al. (1992) afirmam que, em diversos estudos, a elevação da temperatura corporal tem sido associada com o risco para o desenvolvimento da úlcera de pressão, mas que o mecanismo da associação entre elevação da temperatura corporal e o desenvolvimento de úlcera ainda não está esclarecido.

Em relação aos fatores de risco intrínsecos relacionados na Tab.4, verifica-se que, na interpretação do Kappa, a concordância entre observadores foi perfeita em 25%, ótima em 50% e boa em 25%. 

FATORES DE RISCO EXTRÍNSECOS

Tabela 5 – Índice de concordância entre observadores e distribuição do percentual médio de fatores de risco extrínsecos para úlcera de pressão em pacientes acamados, internados na Enfermaria de Clínica Médica do HULW/UFPB – João Pessoa, nov./97 a fev./98.

Fator Risco

¦

k

IC

%

n=52

IC

O1

O2

Força
pressão corpo

42

42

1,00

-

80,8

5,46

Força cisalha-
mento

16

15

0,95

0,031

29,8

6,34

Restri-
ção
mov.
conten-
são
tot/par

09

09

1,00

-

17,3

5,25

Mob. inadeq

35

35

1,00

-

67,3

6,51

Cond.
inad. colchão

27

27

1,00

-

51,9

6,93

Cond.
inad. roupa cama

37

38

0,95

0,031

72,1

6,22

Higiene corpo inad.

15

15

1,00

-

28,8

6,28

O1 (0bservador 1), O2 (Observador 2) ; k=Índice Kappa ; IC=Intervalo de confiança, For. (força), mov. (movimento), tot./par (total/parcial), mob.(mobilidade),  cond.inad.(condição inadequada)

Quando alguma parte do corpo é submetida à força de pressão por um período superior a 2 horas, os tecidos são privados totalmente do oxigênio e nutrientes necessários à manutenção de sua integridade, causando, em conseqüência, a morte celular e contribuindo, assim, para a formação de úlceras de pressão. Dos pacientes estudados, 80,8% apresentavam evidências de força de pressão no corpo, como áreas de rubor e/ou marcas dessa força na pele. Vale ressaltar que a compressão dos tecidos é considerada pelos autores pesquisados, a exemplo de Beyers e Duda (1989), Bryant et al. (1992), Needham (1993), Braden e Bergstrom (1987) e Dealey (1996), como o fator de risco básico ou primário na formação de úlceras de pressão.

Em relação às roupas de cama, verifica-se que 72,1% dos lençóis estavam com dobraduras; com presença de eliminações vesicais ou intestinais; umedecidos por suor ou outros líquidos; ou com presença de restos alimentares e de pele. Conforme recomendam Campedelli e Gaidzinski (1987), os lençóis devem estar esticados na cama para evitar as dobras que geram pontos de pressão; devem estar secos, pois a umidade favorece a maceração da pele, enfraquecendo sua barreira natural; e deve-se evitar também a presença de restos alimentares (migalhas) e objetos, como alfinetes, pinças, termômetros, que podem ficar sob o paciente e provocar pressão.

A mudança de decúbito (mobilização) deve ser efetuada de acordo com a necessidade individual de cada paciente. Normalmente, recomenda-se que o paciente seja reposicionado a cada 2 horas, com a finalidade: de aliviar e redistribuir a pressão impedindo, assim, a redução do fluxo sangüíneo na pele e tecido subcutâneo; de auxiliar na drenagem de secreções; de estimular a circulação; de exercitar os membros; e de proporcionar conforto (Campedelli e Gaidzinski, 1987). Segundo Dealey (1996), “para a maioria dos pacientes, a mobilização periódica é tudo o que é necessário para a prevenção das úlceras de pressão.” Pôde-se verificar na Tab.5 que 67,3% dos pacientes acamados tinham sua mobilização inadequada.

Em relação aos colchões, 51,9% dos pacientes estavam em leitos com colchões em condições inadequadas. Deve-se ter o cuidado de observar se o tipo de colchão utilizado pelo paciente é indicado ao seu estado de saúde e se está em condições de suportar o peso do paciente, mantendo-o em equilíbrio, sem proporcionar condições que favoreçam o aumento de pressão no corpo. O forro do colchão também deve estar bem esticado pois, quando dobrado, irá produzir pontos de pressão no corpo. Foi observada uma espessura de colchão menor que 13 cm em 42,3% (IC = 6,85), forro com dobraduras em 11,5% (IC = 4,42) e tipo de colchão inadequado para o paciente em 19,2% (IC = 5,46) dos leitos dos pacientes acamados.

A força de cisalhamento foi um fator de risco presente em 29,8% dos pacientes. O cisalhamento ocorre em conseqüência de um posicionamento ou mobilização inadequada. Nele, segundo Smeltzer e Bare, (1994) ocorre “uma inter-relação das forças gravitacionais (forças que empurram o corpo para baixo)”. As camadas de tecido deslizam umas sobre as outras e, como conseqüência, os “vasos esticam e torcem”, rompendo a microcirculação da pele e tecido subcutâneo. A fricção e cisalhamento ocorrem sempre em conjunto porque, no momento em que o paciente desliza no leito, o seu corpo é movido contra o lençol, provocando a fricção, que enfraquece a barreira natural da epiderme (Dealey, 1996).

Na Tab.5, observa-se que 28,8% dos pacientes apresentavam higiene corporal inadequada. A higiene corporal tem como objetivos o conforto do paciente e a estimulação da circulação sangüínea. A manutenção do corpo limpo contribui para a integridade da pele e para que o corpo se defenda da invasão de organismos patógenos. Observou-se nesses pacientes a presença de suor, fezes, urina, sangue, secreções e/ou restos alimentares aderidos à sua pele.

Por sua vez, 17,3% dos pacientes encontravam-se contidos no leito, dos quais 3,8% (IC = 2,65) com contensão total e 13,5% (IC = 4,74) com contensão parcial. Quando o paciente é mantido imóvel, a capacidade de aliviar a pressão através da mudança de decúbito é afetada de maneira importante, deixando-o vulnerável à formação de úlcera de pressão, além das conseqüências para todo o organismo, oriundas de uma imobilidade prolongada, como problemas respiratórios, cardiovasculares, alterações metabólicas, entre outras (Potter e Perry, 1996).

Ao analisar os dados da Tab.5, verificou-se que a presença de alguns dos fatores de risco extrínsecos para o desenvolvimento de úlceras de pressão observados nos pacientes relacionavam-se com cuidados preventivos, comprovando a necessidade de recursos humanos de enfermagem em quantidade e qualidade adequadas à execução desses cuidados, assim como a importância da sistematização da assistência de enfermagem na prevenção de úlceras de pressão. Outros fatores, por sua vez, diziam respeito ao planejamento hospitalar de recursos materiais que possam garantir o bem-estar dos pacientes, como é o caso da renovação de colchões com limite de tempo de uso ultrapassado e provisão de roupa de cama em quantidade suficiente para sua troca sempre que se fizer necessário.

 
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